sábado, 7 de setembro de 2019

Selvagem

Fui censurada por ser mulher
Fui aprisionada em grades invisíveis
Por ser mulher
O macho me chamou de louca
porque danço pra Lua


Gritou me chamando egoísta

porque anseio ser livre numa sociedade de ferros nos calcanhares femininos
Disse que meu defeito é minha independência



De mim, escutou um singelo:

FODA-SE ESSA PORRA TODA


(2017)


Romper

minhas unhas sujas só dizem do quanto a métrica estética não cabe
não cabe tanta coisa em mim
e ainda assim elas existem
não há negação que as faça apagar


tentamos.. é certo
mas nem sempre
a não ser a negação do senhor Tempo
a implacável domadora de almas


Saturno diz quando o esmalte ou a ausência dele

vão transgredir a ordem do dia
(mar. 2017)

domingo, 18 de agosto de 2019

Tenso

Estremeceu a terra
dentro dos meus pés
Sim... dentro...

Também causou furacão
avalanche
tsunami
enchente

Tudo dentro de mim...

Invocaram as forças da natureza
e estou prestes a destruir algo
ou pior
todo o mundo

Tensa

terça-feira, 18 de junho de 2019

Intueri

Pé no chão
descalça
sinto a terra úmida 
entrar na minha alma

Fecho os olhos 
sinto o chuvisco leve
o vento frio
a manhã de outono
Me abraçam...

Estou viva!
Sinto a vida pulsando dentro
e fora de mim
...

Tiro toda a roupa
Estou diante de todos os olhos
Uns se chocam
outras aplaudem

Sou apenas um corpo nu
que sente 
e sorri
que sente 
e conta histórias
que sente 
e tem fé
que sente
tudo e todos





segunda-feira, 13 de maio de 2019

Tempo de tesouras

Creio que esse é meu diário mais secreto. Me sinto como no filme IO, escrevendo para ninguém num espaço infinito de vazio e possibilidades, num mundo se despedaçando.
Entrar aqui é sempre o primeiro desafio, isso que torna esse lugar meio que um esconderijo. Gosto de vim aqui e me botar pra escorrer, como água de rio cheio, mas nem sempre lembro da senha... por isso um esconderijo.
Não sei se mais alguém entra aqui pra ler alguma coisa, mesmo sem querer, numa busca mal-sucedida no Google, que descobre, de repente, um diário empoeirado, num fundo de um armário.
Por sorte, hoje lembrei a senha. E estou aqui simplesmente contando algo pra não sei quem...
Mas eu não tenho o que falar, e mesmo assim sinto que devo colocar algo pra fora.
Talvez palavras que vem na boca e não são ditas.
Depois de uma certa idade, dizer coisas sinceras pode causa guerras.
Mas estou aqui, nesse outono de 2019, me sentindo quase que finalizada. No sentido de acabada (de acabamento) e desmaiada (porque o processo foi.... é... ...)
De repente o peso da ancestralidade começa a me cobrar deveres e/ou destinos... 30 anos... casar ou não casar? Filhos ou Eurotrip? Cachorro ou moto?
Sai do meu estado de poesia e devaneio pra o mundo real e cansativo. Agora sou a pessoa que reclama. Mas nem tanto... aprendi a jamais escolher a infelicidade. Isso não!

Mas essa vida de rotina, de contas, roupas, sapato, coisas úteis, coisas inúteis, a vida começou a sufocar de uma hora pra outra. Até a Lua Nova eu só estava com raiva da humanidade. Depois dela, fiquei bicho selvagem, instinto de caça, com fome, com sede de sangue e xeque-mate. Sinto que é tempo de acabar.. estancar uma hemorragia que há muito me consome a força... o passado acalenta, mas também prende. Sua força pode ser gigante... vai amarrando a gente pela insegurança, pelas memórias de algum momento que revira tudo por dentro....
to me sentindo ao avesso agora...
dentro do peito sinto raiva de toda e qualquer injustiça, e a minha energia é de aniquilar pra acabar com essa injustiça... "é tempo de colher e de podar"...

Quero fazer poesia, quero me encantar com os detalhes do amanhecer, quero conversar tomando fresca na porta.. quero olhar o céu e falar das estrelas, quero casar e quero fazer eurotrip com o boy, e voltar de barrigão pra parir em casa, e ter filho, moto e cachorro, e uma horta no quintal!

Quero florescer depois da poda, e colher as semeaduras de outras primaveras....

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Añoranza

Sou vazio a espera de água
quebro máscaras de felicidade
já não é possível esconder

Não amo
Mas digo que sim
Me minto
me despisto 
me ignoro

Tomo goles largos de lágrimas
que se dissolvem no silêncio do mundo
no meu

Não abro mais a porta
perdi a chave
Não sei onde me esqueci
mas sei que ainda vivo
Mesmo que tudo seja dor 

jun. 2018

domingo, 13 de agosto de 2017

Sonâmbula

Quanto tempo temos que viver em estado de dormência existencial até acordarmos?

Dia desses, não sei ao certo qual, pensei sobre isso e lembrei desse blog. Há anos não publico nada, apesar das escritas ainda brotarem em mim.
Tenho deixado tudo bem escondido dos olhos do mundo nos meus cadernos...
Alguns escritos, mais secretos, continuam apenas impressos nas minhas profundezas aquáticas.

A memória, essa amiga tão furtiva nossa, sempre me deixa meio zonza de tantos pensamentos sobre tudo.
Às vezes só queria um descanso de pensar. Esvaziar tudo e me sentir em paz. Sabe, aquele coisa bem Yogananda mesmo. Mas não consigo. Minha mente é por demais delirante ainda, e viajo mesmo quando estou no nada.
São tantos porquês, pra quês, pra onde que temos que ir, que nem sempre isso conforta, mas sim desregula loucamente, surtando até o mais comum dos normais. Aceitem, todos surtamos de vez em quando. Ou menos quem já conseguiu se livrar dos desejos. Sábio recado esse, inclusive.
Mas, insistentemente, a memória bate à porta te lembrando de tudo aquilo que você tomou pra si como cobrança, seja sua mesmo ou dos outros. Ou no pior dos casos, quando as duas se confundem e te açoitam o lombo com cipó de pitanga.

A memória desperta. E daí a pergunta inicial vem que nem um meteoro em direção a você. E esse despertar traz consigo todos os pesos da memória que também dói. E é preciso ter muitas armas e ervas na capanga de viagem. 

Hoje (dias depois de começar a escrever esse texto, que ficou salvo nos rascunhos rs) percebi que tenho andado às voltas com questões da memória, esse espectro que acompanha todas nós. Há dias venho juntando anotações sobre ela... palavras de gente sabida - mais do que eu - segundo os pressupostos acadêmicos. 

Ela nos inquieta, faz com que busquemos olhar pra dentro de nós mesmo com mais força e precisão, quando estamos conscientemente acordadas diante da existência. Que deveras, há de ser sublime pra não apenas agregar o rigor científico dos dizeres que são muitos. Como disse Bachelard "para lá do pitoresco, os vínculos da alma humana e do mundo são fortes. Vive então em nós não uma memória de história, mas uma memória de cosmo". Sou a prova viva. Bachelard leu meus diários pra pensar nisso, sem dúvidas. Sem sabe se ele está agora se revirando ou não no túmulo, apenas digo que somos essa poeira cósmica de amores e rancores, vidas e vindas ou idas. Estamos todas cá dentro de nós, percorrendo o tempo-espaço do infinito. Os círculos que se cruzam e nunca têm fim. 

A vida, eu diria, é feita de delírios e memórias e presente e esquecimentos e ressignificações. 

Sem pretensões de ser um texto de autoajuda, trago apenas um olhar sobre Mnemósine e suas estruturas na prática do viver. .