segunda-feira, 13 de maio de 2019

Tempo de tesouras

Creio que esse é meu diário mais secreto. Me sinto como no filme IO, escrevendo para ninguém num espaço infinito de vazio e possibilidades, num mundo se despedaçando.
Entrar aqui é sempre o primeiro desafio, isso que torna esse lugar meio que um esconderijo. Gosto de vim aqui e me botar pra escorrer, como água de rio cheio, mas nem sempre lembro da senha... por isso um esconderijo.
Não sei se mais alguém entra aqui pra ler alguma coisa, mesmo sem querer, numa busca mal-sucedida no Google, que descobre, de repente, um diário empoeirado, num fundo de um armário.
Por sorte, hoje lembrei a senha. E estou aqui simplesmente contando algo pra não sei quem...
Mas eu não tenho o que falar, e mesmo assim sinto que devo colocar algo pra fora.
Talvez palavras que vem na boca e não são ditas.
Depois de uma certa idade, dizer coisas sinceras pode causa guerras.
Mas estou aqui, nesse outono de 2019, me sentindo quase que finalizada. No sentido de acabada (de acabamento) e desmaiada (porque o processo foi.... é... ...)
De repente o peso da ancestralidade começa a me cobrar deveres e/ou destinos... 30 anos... casar ou não casar? Filhos ou Eurotrip? Cachorro ou moto?
Sai do meu estado de poesia e devaneio pra o mundo real e cansativo. Agora sou a pessoa que reclama. Mas nem tanto... aprendi a jamais escolher a infelicidade. Isso não!

Mas essa vida de rotina, de contas, roupas, sapato, coisas úteis, coisas inúteis, a vida começou a sufocar de uma hora pra outra. Até a Lua Nova eu só estava com raiva da humanidade. Depois dela, fiquei bicho selvagem, instinto de caça, com fome, com sede de sangue e xeque-mate. Sinto que é tempo de acabar.. estancar uma hemorragia que há muito me consome a força... o passado acalenta, mas também prende. Sua força pode ser gigante... vai amarrando a gente pela insegurança, pelas memórias de algum momento que revira tudo por dentro....
to me sentindo ao avesso agora...
dentro do peito sinto raiva de toda e qualquer injustiça, e a minha energia é de aniquilar pra acabar com essa injustiça... "é tempo de colher e de podar"...

Quero fazer poesia, quero me encantar com os detalhes do amanhecer, quero conversar tomando fresca na porta.. quero olhar o céu e falar das estrelas, quero casar e quero fazer eurotrip com o boy, e voltar de barrigão pra parir em casa, e ter filho, moto e cachorro, e uma horta no quintal!

Quero florescer depois da poda, e colher as semeaduras de outras primaveras....