domingo, 13 de agosto de 2017

Sonâmbula

Quanto tempo temos que viver em estado de dormência existencial até acordarmos?

Dia desses, não sei ao certo qual, pensei sobre isso e lembrei desse blog. Há anos não publico nada, apesar das escritas ainda brotarem em mim.
Tenho deixado tudo bem escondido dos olhos do mundo nos meus cadernos...
Alguns escritos, mais secretos, continuam apenas impressos nas minhas profundezas aquáticas.

A memória, essa amiga tão furtiva nossa, sempre me deixa meio zonza de tantos pensamentos sobre tudo.
Às vezes só queria um descanso de pensar. Esvaziar tudo e me sentir em paz. Sabe, aquele coisa bem Yogananda mesmo. Mas não consigo. Minha mente é por demais delirante ainda, e viajo mesmo quando estou no nada.
São tantos porquês, pra quês, pra onde que temos que ir, que nem sempre isso conforta, mas sim desregula loucamente, surtando até o mais comum dos normais. Aceitem, todos surtamos de vez em quando. Ou menos quem já conseguiu se livrar dos desejos. Sábio recado esse, inclusive.
Mas, insistentemente, a memória bate à porta te lembrando de tudo aquilo que você tomou pra si como cobrança, seja sua mesmo ou dos outros. Ou no pior dos casos, quando as duas se confundem e te açoitam o lombo com cipó de pitanga.

A memória desperta. E daí a pergunta inicial vem que nem um meteoro em direção a você. E esse despertar traz consigo todos os pesos da memória que também dói. E é preciso ter muitas armas e ervas na capanga de viagem. 

Hoje (dias depois de começar a escrever esse texto, que ficou salvo nos rascunhos rs) percebi que tenho andado às voltas com questões da memória, esse espectro que acompanha todas nós. Há dias venho juntando anotações sobre ela... palavras de gente sabida - mais do que eu - segundo os pressupostos acadêmicos. 

Ela nos inquieta, faz com que busquemos olhar pra dentro de nós mesmo com mais força e precisão, quando estamos conscientemente acordadas diante da existência. Que deveras, há de ser sublime pra não apenas agregar o rigor científico dos dizeres que são muitos. Como disse Bachelard "para lá do pitoresco, os vínculos da alma humana e do mundo são fortes. Vive então em nós não uma memória de história, mas uma memória de cosmo". Sou a prova viva. Bachelard leu meus diários pra pensar nisso, sem dúvidas. Sem sabe se ele está agora se revirando ou não no túmulo, apenas digo que somos essa poeira cósmica de amores e rancores, vidas e vindas ou idas. Estamos todas cá dentro de nós, percorrendo o tempo-espaço do infinito. Os círculos que se cruzam e nunca têm fim. 

A vida, eu diria, é feita de delírios e memórias e presente e esquecimentos e ressignificações. 

Sem pretensões de ser um texto de autoajuda, trago apenas um olhar sobre Mnemósine e suas estruturas na prática do viver. .